O sucesso de uma clínica especializada na reabilitação visual de pacientes com ceratocone, entre outras patologias, com o uso de lentes de contato especiais mede-se em parte pelo volume de pacientes desta natureza e pela resolução de casos de alta complexidade nos quais alguns pacientes já estiveram em diversos especialistas sem obter um resultado satisfatório. É comum os pacientes relatarem consultas com outros especialistas que tentaram adaptar lentes sem resultado ou que foram sugeridos a eles alternativas cirúrgicas para o ceratocone.
As alternativas cirúrgicas que os pacientes buscam visam, na imensa maioria dos casos, uma solução final para o ceratocone. Alguns pacientes são beneficiados com cirurgias como a do implante de anel ou transplante de córnea por exemplo, mas não é a regra infelizmente. Embora a fé, o pensamento positivo e especialmente a confiança que pacientes e familiares tem no cirurgião, grande parte dos casos terão ainda que utilizar algum meio de correção óptica para o restabelecimento da acuidade visual. Normalmente as lentes RGPs especiais irão ter importante papel nestes casos e as lentes esclerais também são outra alternativa interessante. O que leva estes pacientes a procurarem alternativas cirúrgicas que não garantem uma acuidade visual como a que as lentes especiais proporcionam é justamente a dificuldade com as diferentes lentes disponíveis. Isso torna-se ainda pior se as expectativas do paciente e por consequência de seus familiares não são atingidas. Quando são atingidas é ótimo, quando não são...
Fig.1: Lente Ultracone - Excelência no ceratocone (Cortesia IOSB). |
Os pacientes de ceratocone geralmente tem em seu histórico uma luta travada com lentes de contato rígidas que muitas vezes irritaram, machucaram ou simplesmente não se adaptaram. O interessante é que estes tiveram, e ainda tem, experiências frustrantes com lentes de má qualidade e/ou incorretamente adaptadas e esperam por uma solução que lhes proporcione um fim para esta luta, uma solução que elimine o problema e remova a dependência do uso de lentes de contato. Estes pacientes são os melhores pacientes, costumo comentar com os oftalmologistas amigos e credenciados na Ultralentes, fabricante das lentes Ultracone, Ultraflat e Scleral Bastos. Quando apresentados a estas lentes descobrem um mundo novo onde o conforto e a possibilidade de adaptarem-se as tão temidas lentes rígidas (RGPs) se tornam uma realidade viável.
A importância das Revisões de Rotina
As revisões de rotina servem para que o especialista possa ter um controle sobre a adaptação das lentes e sobre o estado atualizado da relação lente-córnea. Com elas as chances de se observar uma possível complicação futura e evitar que o paciente tenha que ser tratado e suspenda a utilização das lentes enquanto estiver tratando. As revisões de rotina são revisões preventivas e evitam a necessidade de revisões corretivas nas quais algum problema possa estar em curso. A prevenção sempre é o caminho mais saudável a seguir. O ideal seria uma visita a cada seis meses, mas levando em consideração de que o paciente é devidamente instruído, está bem adaptado com lentes de alta qualidade, é razoável uma consulta de revisão anual ao menos ou no máximo a cada 18 meses. Em casos de suspeita de progressão o ideal é que este prazo não ultrapasse seis meses.
Na nossa experiência, os pacientes de ceratocone adaptados com sucesso com lentes de contato especiais dividem-se basicamente em:
- Fazem as revisões nos períodos indicados, mesmo estando tudo bem (pelo menos uma vez ao ano);
- Fazem revisões apenas quando tem algum problema (as vezes levam alguns anos para retornar).
Embora seja uma recomendação geralmente dada aos pacientes de que retornem a clínica para as revisões de rotina muitos pacientes no IOSB ficam tão bem adaptados as lentes que simplesmente somem por alguns anos e sempre retornam quando estão com algum problema. Eventualmente estes pacientes vem inclusive usando suas lentes e com alguma ceratite ou mesmo pequena erosão de córnea. A primeira coisa que eles desejam é que o problema seja resolvido logo, fazendo o teste de novas lentes no mesmo dia ou que não é indicado devido as alterações da córnea induzidas pela(s) lente(s) que está em uso. O ideal, conforme o caso, é instruir o paciente a ficar sem lentes por alguns dias para que a córnea possa restabelecer-se e assim o novo teste será mais preciso. Se for apenas ceratite discreta, a simples interrupção do uso por três dias já é suficiente para a regeneração do epitélio e para o retorno da córnea em seu estado topográfico natural. Já em casos de pacientes apresentando uma ceratite mais significativa ou uma erosão de córnea o recomendado é que o oftalmologista prescreva uma medicação em forma de colírio e em gel (geralmente um gel ou pomada para regeneração epitelial e um antibiótico profilático) pelo período necessário, juntamente com a suspensão total do uso de lentes, geralmente de 3 a 7 dias dependendo da severidade do caso.
Um dos grande desafios que encontramos no IOSB é o fato de que temos muitos pacientes fora de Porto Alegre e mesmo de diversos outros estados. Estes pacientes muitas vezes não dispõem de tempo para aguardar ou retornar após o tratamento e precisam ser reavaliados. Por esta razão recomendamos a estes pacientes que antes de vir consultar suspenda o uso de suas lentes por no mínimo 48 hs antes da consulta, isso facilita muito a avaliação. Aqui o paciente pode ser avaliado no local com a sua própria lente ou então realizados novos testes e exames como a topografia de córnea ou tomografia de segmento anterior.
Excelência na Adaptação e Readaptação de Lentes Especiais
Uma das razões pelas quais os pacientes tratados no IOSB e adaptados ou readaptados com lentes especiais podem contar com longos períodos de tranquilidade é que além de serem adaptados com lentes de alta tecnologia e com métodos de última geração é que eles são bem instruídos quanto ao uso, ao cuidado e limpeza correta de suas lentes. O paciente que é bem adaptado, com lentes de alta qualidade e bem instruído quanto aos cuidados com seus olhos e suas lentes terá maior longevidade de sucesso e tranquilidade com a adaptação.
Fig.2: Padrão de Fluoresceína de uma lente Ultracone |
É interessante mencionar que há casos onde os pacientes do IOSB permanecem utilizando as mesmas lentes por muitos anos, na média em torno de 2 a 3 anos, mas há casos (exceções) de pacientes utilizando as mesmas lentes RGPs por 4, 6, 8, 10 e até 12 anos (estes três últimos adaptados ainda por meu pai, Dr. Saul Bastos). Na figura 3, o estado de uma das lentes utilizada por 10 anos. O ideal é que os pacientes troquem suas lentes com uma frequência maior, garantindo assim uma qualidade de visão e conforto maior, assim como a segurança fisiológica da córnea.
Fig.3: Lente RGP Ultralentes com 10 anos de uso (cortesia IOSB). |
Com que frequência deve-se trocar as lentes?
Em primeiro lugar é importante mencionar que cada caso deve ser observado individualmente. Existem pacientes que possuem uma lágrima com maior quantidade de mucina, estes tem uma maior tendência a formação de depósitos muco-proteicos na superfície da lente. Estes pacientes devem ser orientados a ter um cuidado maior na limpeza mecânica e química (solução multi-uso) de suas lentes. Com este cuidado as lentes poderão durar mais tempo, embora somente o acompanhamento poderá revelar como o paciente irá corresponder. Outra questão importante refere-se ao material utilizado na fabricação das lentes, observe que embora a lente na figura 3 esteja completamente riscada, não há uma formação evidente de depósitos mas sim a aderência de depósitos nas ranhuras causadas pelo longo tempo de uso e manuseio (limpeza, colocação, inserção, etc.).
Nos casos onde houver constatação de progressão do ceratocone, com a presença de toque central no padrão de fluoresceína, a lente deve ser imediatamente trocada devido a possibilidade de fazer lesão epitelial. O paciente deverá ser orientado a suspender o uso de suas lentes e retornar para novo exame, desta maneira tem-se uma atualização segura do estado da córnea e controle sobre a adaptação. Outra situação é a constatação de que há presença de imperfeições na lente, um trincado, borda com pequena quebra, etc. pois estas lentes poderão machucar a córnea do paciente.
Procure sempre programar suas revisões de adaptação com antecedência, marque a consulta de revisão e imediatamente coloque em sua agenda, no celular, smart-phone ou um lembrete no espelho/geladeira, mas não esqueça de ir. As chances de complicações do uso de lentes decaem sensivelmente se você tiver o cuidado de seguir as orientações do seu especialista e se fizer as revisões com a frequência necessária.
Para concluir, uma frase célebre de meu pai:
"Nós nunca estragamos os olhos de nenhum paciente."
Dr. Saul Bastos - In Memoriam
Luciano Bastos
Diretor & Instrutor Clínico de LC Especiais
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