EXCELÊNCIA EM REABILITAÇÃO VISUAL COM LENTES DE CONTATO ESPECIAIS

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domingo, 11 de janeiro de 2015

Ceratocone: Projeto Visão 20/15

Fig.1: Censo 2010 - IBGE
O ceratocone é uma patologia da córnea que afeta a visão de dezenas, centenas de milhares de pessoas no mundo. A bibliografia mais atual sugere que a patologia ocorre entre uma a cada 1500 a 2000 pessoas, se dentro desta estatística temos aproximadamente no Brasil 191 milhões de habitantes (segundo censo realizado pelo IBGE em 2010 - Fig.1) é possível existir cerca de 127 mil pessoas com ceratocone. Destes pacientes muitos tem grande dificuldade em obter um atendimento adequado, especialmente devido a falta de investimentos na saúde pública. Os pacientes que tem condições financeiras de tratar-se procuram via de regra especialistas através dos convênios médicos e atendimento particular. No entanto grande parte tem que recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) através hospitais públicos ou filantrópicos para obter orientações e tratamento.


A disponibilidade de atendimento ao paciente com ceratocone

Mesmo que a população toda tivesse acesso a todos os oftalmologistas disponíveis no Brasil, e não são poucos (cerca de 16 mil oftalmologistas, segundo censo de oftalmologistas realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia - 2011)  a sub-especialidade para tratar pacientes com ceratocone é segmento anterior e uma sub-especialidade testa por suas vez é córnea. Apenas parte dos especialistas dedicam-se a estas áreas. Mesmo com os especialistas em córnea disponíveis, há grande parte que dedicam-se a áreas mais restritas, que poderiam ser chamadas sub-especialidades dentro da sub-especialidade da córnea, seja a cirurgia refrativa e tratamentos para ceratocone por exemplo. No caso do ceratocone que é o que interessa aqui, alguns profissionais tem uma orientação e interpretação por métodos não invasivos como a adaptação de lentes de contato especiais, outros dedicam-se a métodos minimamente invasivos tais como implante de anel intraestromal, crosslinking e outros métodos combinados. Uma observação que tenho feito é que não há realmente um consenso de qual o método para determinar o melhor tratamento embora exista uma linha de interpretação onde a baixa visão provocada pelo ceratocone deve ser primariamente com óculos sempre que possível, depois com lentes de contato ou métodos cirúrgicos. O transplante de córnea vem por último sempre como o último recurso a ser invocado por uma série de razões que vão desde a possibilidade do paciente enfrentar uma rejeição ao transplante e uma série de possíveis intercorrências que podem advir no tratamento desta rejeição. Outra possibilidade que pode ocorrer após o transplante e sua total cicatrização é a presença de astigmatismo irregular elevado devido a diferenças de força ocorridas durante o processo de cicatrização.   

O papel das lentes de contato especiais no ceratocone

Interessante e importante mencionar que atualmente com o desenvolvimento de lentes rígidas gás permeáveis (RGPs) especiais cada vez mais sofisticadas e com o advento das modernas lentes esclerais a opção de adaptação de lentes de contato no ceratocone é ainda mais importante pois é de todos os métodos para reabilitação visual do paciente a que proporciona os melhores resultados, isso é incontestável. Nesta área praticamente todos os casos onde é possível obter uma melhora da acuidade visual do paciente as lentes terão importante papel na reabilitação visual do paciente, então é indicado não somente para o ceratocone sozinho mas para a condição de pós-implante de anel, pós-crosslinking e até mesmo pós-transplante de córnea. A adaptação de lentes pós-implante de anel e pós-transplante é via de regra mais complexa e difícil que o ceratocone, naturalmente depende de cada caso. No entanto a possibilidade atualmente de adaptação de lentes esclerais (figura 2) que sobrepõe a córnea e o limbo e se apoiam na esclera (porção branca dos olhos) tem facilitado muito este tipo de dificuldade. Esta lente é inserida nos olhos do paciente com um fluido sem conservantes que promove um ecossistema saudável para a córnea e promove a sua saúde, desde que corretamente adaptada. 
Fig.2: Lente escleral (cortesia IOSB)

O outro problema decorrente da falta de opções para os pacientes que precisam do SUS ou de opções mais em conta para sua reabilitação visual é que nem todos os especialistas tem a mesma experiência, alguns inclusive não dedicam o tempo e o estudo necessários para esta área por diversos motivos, por achar que já sabem o suficiente ou tudo, por não interessar a eles aprofundar o tema e também por não ser sua área de interesse e foco. No entanto existem vários hospitais públicos e bancos de olhos que possuem ambulatórios de adaptação de lentes de contato que prestam este serviço. É importante também louvar a medicina e em especial a oftalmologia brasileira que mesmo com a falta de investimentos na saúde pública luta como pode para proporcionar um atendimento digno e de qualidade, dentro do possível, para o maior número de pessoas. Como mostra o censo oftalmológico realizado pelo CBO em 2011 o Brasil tem oftalmologistas de sobra para o atendimento de toda a população, falta no entanto condições de criar um projeto público que dê segurança e condições para possa ocorrer uma descentralização dos médicos que estão em sua maior parte nos grandes centros urbanos. Isso ocorre justamente pela falta de investimentos e de garantias para que os médicos possam exercer as suas atividades com segurança no interior. Hospitais e postos de saúde equipados e um plano de carreira com salários dignos a profissão seriam fundamentais para uma mudança que melhor atenderia o povo brasileiro.

Um pequeno gesto para ajudar a alguns

O Instituto de de Olhos Dr.Saul Bastos tem uma proposta para ajudar ao menos a alguns pacientes este ano a ter a sua reabilitação visual sem qualquer custo. A ideia começou ser estudada em 2014 e deve ser implementada ainda neste primeiro bimestre com as orientações de como proceder. A proposta é escolher um caso a cada dois meses para receber atendimento e adaptação de lentes pela equipe do IOSB sem nenhum custo absolutamente. Os casos que os candidatos preencherem os requisitos serão analisados e a escolha será de um paciente de qualquer localização no Brasil que receberá o atendimento, exames e adaptação de lentes sem qualquer custo envolvido. O candidato deverá preencher um formulário e enviar para o IOSB juntamente com algumas informações iniciais sobre o caso, como um histórico, exames prévios se houver e comprovante de atendimento por hospital público. 

Os critérios para a escolha dos candidatos a receber o benefício serão definidos pela equipe do IOSB que fará a doação das lentes para a adaptação. O IOSB convida a todos oftalmologistas dedicados a adaptação de lentes de contato para para participar.

Um pequeno gesto para que ao menos algumas pessoas possam também ter a chance de melhorar a sua visão, com uma melhoria na qualidade de vida e da sua dignidade como ser humano e cidadão.

Dr. Marcelo Bittencourt - CREMERS 9683
Diretor Clínico

Luciano Bastos
Diretor & Instrutor Clínico de LC Especiais
Instituto de Olhos Dr. Saul Bastos